Felicidade é treino, e tem hora certa!





Você se lembra do Coelho Maluco do livro Alice no País das Maravilhas? Ele corria de um lado a outro consultando um imenso relógio pendurado no pescoço e repetindo “estou atrasado, estou atrasado, estou atrasado.” Seria cômico se não fosse trágico. Porque, quando a inocência da infância fica em algum lugar do caminho, é possível ver o mundo sem lentes cor-de-rosa e, com isso, perceber as verdades incrustadas onde nem sequer imaginávamos. E o Coelho Maluco, que antes provocava apenas risadas, passa a significar uma caricatura de gente que vive ao nosso lado. Ou até, de nós mesmos. Pois, assim como ele, estamos sempre atrasados, sempre correndo em círculos, procurando o que não sabemos exatamente, porém está em falta. É tarde para conversar despreocupadamente, é tarde para um banho de banheira, é tarde para uma carta de saudade e mais tarde ainda para ser feliz aqui e agora. Será mesmo? Ser feliz não é uma decisão, é treino. É preciso treinar o coração para entender os momentos simples como aquele em que seu filho pequeno abana um tchauzinho, pega a mochila e vai sozinho até as mãos da professora. Ou receber o pratinho emprestado para a vizinha com um pedaço de bolo de fubá. Ou então, a tarde de chuva em que você tem tudo para fazer, mas prefere e pode ficar olhando as gotinhas formando desenhos na vidraça. Instantes de vida em que é necessário estar inteiro, sem pensar nas horas seguintes ou no relógio cujos ponteiros avisam que falta pouco, quase nada. Claro que este treinamento de felicidade não é fácil. Os caminhos internos para estar bem (muito diferente de bem-estar) são, em sua maioria, tortuosos. Sempre vai haver um sentimento de culpa qualquer para dizer que é tarde, você deveria ter deitado na grama para ver as nuvens quando era criança, agora não. Mande-o fazer um passeio. Nunca é tarde para fazer o que dá prazer. Nunca falta tempo para um novo sonho, um novo beijo e o namoro no portão. A vida não conta nossas horas em minutos e segundos, mas sim, em palpitações no peito. Quanto mais, melhor. E mais tempo você ganha. Lembrei agora de uma grande escritora chamada Hilda Hilst. Linda e talentosa – por mais clichês que as palavras possam soar – aos trinta anos ela se exilou em uma fazenda em Campinas. Lá, fez seu santuário e encontrou a paz para escrever. O que isso tem a ver com o nosso papo? No escritório de Hilda havia um relógio sem ponteiros. O mostrador tinha todos os números e uma frase: É mais tarde do que supões. Embora alguém vá dizer que isso representa o contrário de tudo que foi dito até aqui, explico: se é sempre mais tarde, para que se preocupar? Vamos voltar a rir do Coelho Maluco e entender de uma vez por todas que nunca é tarde. É sempre a hora e o momento certo para colocar o treino em prática. E ser feliz. Aliás, que tal agora?




Afirmação matinal: Cada momento será meu e bem aproveitado.

Diga a si mesma: Nunca é tarde para ser feliz.

Diário noturno: Escreva como anda seu treinamento de felicidade. Fale o que tem sentido e após um mês, releia seus escritos. Você terá mais surpresas do que imagina.

Publicado na Revista Estilo Natural.

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